O cachorro do inferno
O cachorro do inferno
Quando meu marido, Geraldo, chegou do trabalho me encontrou dormindo. O dia havia sido muito cansativo e desmaiei na cama. No meio da noite acordei com latidos.
- Esse cachorro latiu a noite inteira, disse Geraldo.
Levantou-se da cama como estava: calça curta do pijama, peito descoberto e foi para o lado de fora. Ele fala muito alto e escutei alguma coisa, no meio de vários desabafos surgiu a frase:
- Cachorro do inferno! - e continuou por alguns minutos.
Ele veio do interior e fica chocado ao ver o comportamento das pessoas de um bairro considerado nobre, do completo desrespeito aos outros moradores, pessoas na firme convicção de que o mundo gira ao redor dos respectivos umbigos. De outra vez fomos acordados, horas a fio, pela briga de um casal, de madrugada. Aquilo foi se prolongando e não tinha fim, até que ele se levantou da cama, chegou perto do muro que separa nosso prédio da casa ao lado, onde acontecia a discussão interminável e gritou, bem alto:
- Eta favela do Palmital! Foi o bastante. A briga terminou e nunca mais aconteceu. Depois soubemos que se tratava de um médico e sua esposa...
Voltou a se deitar ao meu lado.
- Esse cachorro late quando não há ninguém em casa - falei.
- Tem gente - ele respondeu- Elas tiraram o cachorro da janela e colocaram nos fundos. Agora ele está latindo para a vizinhança do outro prédio. Eram quatro horas da madrugada, o cachorro havia ficado na janela aberta latindo, sem motivo nenhum, horas seguidas e ninguém havia tomado providências, nem as donas do cachorro.
- Não seria mais fácil as donas dele fecharem a janela e apagarem a luz? O cachorro provavelmente dormiria, depois - falei.
Se algum dia entrar ladrão na casa ninguém vai tomar conhecimento, porque o cachorro late sem parar, sem nenhuma motivação ou estímulo externo.
Às vezes late em ritmo:
- Au, au, au - pausa- au, au, au - pausa, como em código morse. Eu não conheço o código morse, mas talvez deva fazer o curso. Quem sabe o cachorro está enviando alguma mensagem?
Gosto de animais, qualquer um. Se tivesse uma cobra acabaria gostando dela. Uma vez peguei o rato do laboratório, depois de uma experiência comportamental de Skinner e o trouxe para casa. O pessoal ia matá-lo com algodão e éter. Ficou comigo dois anos até morrer de morte natural.
Mas ainda prefiro gatos. São silenciosos, discretos, carinhosos. Sentam-se no colo da gente e ficam ali, quietinhos, às vezes fazem um carinho em nosso rosto. Brincam sozinhos com bolinhas de papel, são graciosos e leves, acompanham seu dono o tempo todo, dentro de casa.
Não entendo porque são tão odiados aqui no Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário