sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Descobri que falo grego

                                                    Descobri que falo grego

 

         Há cerca de seis anos atrás encontrei alguns meninos de rua brincando com uma calopsita, puxando a coitada pela perninha enquanto ela tentava fugir. Um casal viu aquilo e a mulher comentou:

        - Esse pássaro é caro. Olha o que os meninos estão fazendo com ele.

        Sem pensar em nada, com quem eu estaria lidando, só vi o bichinho sendo maltratado. Estendi a mão e peguei a calopsita, que, em lugar de agradecer enfiou o bico na minha mão. Foi bem doloroso. A mulher me entregou uma folha e disse para eu colocar no bico dela. O dedo sangrou.

        Enquanto eu me encaminhava para casa, um dos meninos me seguiu.

        - Ele é meu, fui eu que achei! - disse

        Expliquei que ia cuidar do pássaro, dar comida e água e ele se conformou. Depois pensei que tinha sido precipitada, eu devia ter negociado, dado algum dinheiro aos meninos...

        Coloquei a calopsita em uma gaiola e meus gatos passaram o dia olhando para ela, fascinados. Não fizeram mais nada o dia inteiro. Liguei para o faz-tudo, meu eletricista-bombeiro-encanador- azulejista, etc, que quebra todos os galhos domésticos para ele fazer uma adaptação, colocar uma cordinha com roldana para facilitar a subida e descida da gaiola. Comentei que minha gata Safira podia até pegar o pássaro dentro da gaiola. Sai por um momento e vi o José tentando se esconder no banheiro.

       - José, por que você está se escondendo no banheiro de empregada? - perguntei.

       - É porque você disse que a gata é brava - ele respondeu.

       - Mania que as pessoas tem de pensar que gato é igual tigre, que pula no pescoço das pessoas. Gato cuida da própria vida. E eu não disse que ela é brava - falei.

       - Disse.

       - Não disse.

       - Disse.

       - Está bem, mesmo que ela seja brava não está interessada em você. Está interessada no passarinho. - falei.

       Ele saiu do banheiro e entrou no quarto de empregada, onde meus gatos estavam. Minha gata Safira, que é mansa, lerda, de bem com a vida, de repente, ao vê-lo se aproximando, se arrepiou toda: das costas ao rabo, que ficou lindo, enorme.

       É o poder do medo e da crença humana, capaz de influenciar até o comportamento animal.

      

      

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