Narrativas de fatos quotidianos, de pessoas reais, em linguagem de fácil leitura, acessível a todos os leitores, com alguns nomes trocados. Acontecimentos nas vizinhanças, dentro de casa, no consultório e no ambiente de trabalho.
terça-feira, 13 de agosto de 2013
segunda-feira, 5 de agosto de 2013
A Colega Esquisita
A Colega Esquisita
-
Tem alguma coisa errada com Magnólia- disse a colega da mesa ao lado, chegando
para trabalhar.
-É, realmente. Sempre que chegamos ela já está lá, sentada, trabalhando,
respondeu a outra.
- Ela chega às sete horas, em ponto, todos os dias. -
Qual é o horário de trabalho, mesmo?
-
É sete horas da manhã, mas todo mundo chega às oito.
-
Realmente, ela não é normal.
-
Também acho. Já viu as folhas que ela digita no computador?
-
Já. Não tem um erro. Termina o trabalho rapidinho. E ainda coloca o texto
formatado. Dava para colocar as folhas que ela digita em quadros e pregar na
parede
-
Pois é. Tem coisa aí
-
E você sabe que depois do expediente ela ainda volta para cá?
-
É mesmo? Para quê?
-
Sei lá... Será que ela quer tomar a chefia?
-
Temos de ficar de olho.
Magnólia
notou os cochichos das colegas, mas continuou seu trabalho até o final do
expediente. Por mais que tentasse, não conseguia aproximação com nenhuma delas.
O relacionamento era superficial. A amizade passava longe. Talvez a diferença
do grau de instrução fosse um empecilho. Saía duas horas antes de todas por exercer
um cargo diferente na seção, com menor remuneração.
Terminado seu horário de trabalho, levantou-se, saiu, foi a um restaurante natural que ficava a dois quarteirões da secretaria. Pediu o prato do dia: arroz integral, legumes e a sobremesa.
Arrependeu-se
à chegada da sobremesa: um copo enorme de frutas variadas cobertas com gelatina
vermelha. E ainda tinha uma porção de cereais cobrindo tudo.
-
Só a sobremesa seria um almoço completo,
pensou, mas comeu assim mesmo e voltou à secretaria.
Entrou
no banheiro.
A
secretaria era cuidadosa com suas repartições. O banheiro estava sempre limpo e
cheirando a eucalipto.
Estava
escovando os dentes quando uma colega entrou no banheiro e riu.
-
já sei o que você veio fazer aqui, depois do expediente, em vez de ir direto
para casa. Está interessada no Robespierre, o novato da seção ao lado, não é?
-
Quem? – Magnólia se espantou.
-
Aquele lá, está arrasando corações, a colega continuou e mostrou o colega,
chegando para o trabalho.
Magnólia
viu o rapaz que entrava na repartição ao lado. Parecia meio lento, bobão e não
entendeu o que havia nele para arrasar o que quer que fosse, cabeças ou
corações, a não ser a novidade da sua condição de novato.
-
Era só o que faltava, pensou.
Olhou
o relógio e suspirou de impaciência, vendo que ainda tinha de esperar uma hora.
Ali perto não havia nada para se distrair, nem uma livraria.
-
E ele sempre se atrasa entre um cliente e
outro, pensou. Fazer o quê?
Penteou
os cabelos, ajeitou a roupa e se encaminhou para as enormes portas da secretaria, sabendo que nos dias seguintes ia
fazer a mesma coisa, até o dentista terminar o lento trabalho em seus dentes.
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