terça-feira, 13 de agosto de 2013

Dia dos Pais Tumultuado



Dia dos Pais Tumultuado



                Meu marido me ligou do trabalho dizendo que seus filhos queriam lhe dar um presente: uma entrada no Mineirão para o jogo do Cruzeiro e se eu queria ir, para eles comprarem a entrada. Falei sim, embora não entenda o que seja gostar de futebol. Assisto um ou outro jogo na TV quando se trata de jogo do Brasil, Campeonato Mundial, mas dispenso os demais.


                - Todos vão caber no carro? – perguntei.


                - Sim, são dois carros, vai dar para levar todos – ele respondeu.


            Domingo, dia dos pais, enviei uma mensagem via celular ao meu enteado Phillipe, dizendo que queria pagar minha entrada já que o dia era dos pais (e não das madrastas)


                O celular começou a tocar e parou antes que eu pudesse atender. Olhei o número: desconhecido. Voltou a tocar e desligar. Quando tocou a quarta vez, e irritantemente desligou, apertei o botão de desligar do celular e resolvi o problema. Silêncio. Nesse meio tempo Phillipe já havia acordado e me enviado sua resposta, que desconheço até hoje, já que o celular estava desligado e a mensagem não chegou.


             Meu marido, Geraldo, ligou a TV. Perguntei por que não começava a cozinhar a carne para eu poder fazer o molho à bolonhesa e começar a armar a lasanha, já que Camilla, filha dele, havia dito que queria almoçar cedo. Ele foi para a cozinha quinze minutos depois.


                O gás acabou.


             Não tenho bujão de reserva porque me recuso a trocar o referido objeto no fogão, por ter recebido um jato de gás gelado nos braços quando tentei fazer isso a primeira vez. Prefiro que o “homem do gás” faça isso. É muito prático: ele traz o bujão e já faz a troca diretamente no fogão e todos ficam felizes.


              Geraldo saiu contrariado e foi para o jardim esperar a chegada do caminhão do gás.     Geralmente ele chega em trinta minutos, mas o tempo foi passando e... nada. Voltou para o apartamento e tornou a ligar.


                O caminhão do gás quebrou.


              Peguei meu fogareiro elétrico e continuei a cozinhar a carne moída nele. Quando o “homem do gás” chegou, uma hora e meia depois de ter sido chamado, a carne já estava pronta. Preparei o molho, armei a lasanha e coloquei no forno elétrico, enquanto Geraldo preparava os outros pratos no fogão.


                Phillipe havia chegado juntamente com o gás. Chegou de ônibus, sem o carro.


             Resolvemos não esperar, já que o almoço saiu bem mais tarde que o planejado. Preparamos a mesa e nos sentamos. O celular tocou: era Camilla, dizendo que não vinha almoçar e que todos se encontrariam no Mineirão.


                O carro do namorado quebrou.


                Geraldo se aborreceu, novamente, porque teríamos de ir de ônibus. Ele estava preocupado com meu joelho, que havia dado trabalho durante muitos meses, eu havia passado por várias sessões de fisioterapia e estava em recuperação.


                - Pode ir, Geraldo, falei, eu fico.


                Para falar a verdade, eu não tinha nenhuma vontade de ir e foi com alívio que recebi a notícia da falta dos dois carros. A família é fanática por futebol e não gosto de ser desmancha-prazer.


          Acabado o almoço, preparado para  oito pessoas e com o comparecimento de três, pai e filho saíram, entusiasmados, para o futebol.


                Lavei os pratos, arrumei a cozinha e... cai na cama. Dormi durante uma hora e meia.


                Resolvi ir à missa.


                A missa daria outra crônica. Comemoração do dia dos pais, parabéns, palmas, etc.


             No caminho de volta para casa, meu celular tocou. Era Geraldo, dizendo que havia chegado há muito tempo. A igreja fica a um quarteirão do meu prédio.


                Ele  contou como foi o futebol.


                - O estádio é de primeiro mundo, mas as pessoas, não - falou.


             Disse que as cadeiras são fortes, praticamente impossíveis de se quebrar, mas os torcedores se esforçavam para fazer isso. Não se sentavam: todos ficaram em pé em cima das cadeiras e era quase impossível enxergar o campo. Ele olhou as outras cadeiras onde os preços são mais altos e a platéia de nível melhor: todos assistiram ao jogo sentados.

                Para piorar, houve empate: 0x0.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

A Colega Esquisita

A Colega Esquisita

                - Tem alguma coisa errada com Magnólia- disse a colega da mesa ao lado, chegando para trabalhar.
           -É, realmente. Sempre que chegamos ela já está lá, sentada, trabalhando, respondeu a outra.
                - Ela chega às sete horas, em ponto, todos os dias.                                                  - Qual é o horário de trabalho, mesmo?
                - É sete horas da manhã, mas todo mundo chega às oito.
                - Realmente, ela não é normal.
                - Também acho. Já viu as folhas que ela digita no computador?
                - Já. Não tem um erro. Termina o trabalho rapidinho. E ainda coloca o texto formatado. Dava para colocar as folhas que ela digita em quadros e pregar na parede
                - Pois é. Tem coisa aí
                - E você sabe que depois do expediente ela ainda volta para cá?
                - É mesmo? Para quê?
                - Sei lá... Será que ela quer tomar a chefia?
                - Temos de ficar de olho.
                Magnólia notou os cochichos das colegas, mas continuou seu trabalho até o final do expediente. Por mais que tentasse, não conseguia aproximação com nenhuma delas. O relacionamento era superficial. A amizade passava longe. Talvez a diferença do grau de instrução fosse um empecilho. Saía duas horas antes de todas por exercer um cargo diferente na seção, com menor remuneração.
          Terminado seu horário de trabalho, levantou-se, saiu, foi a um restaurante natural que ficava a dois quarteirões da secretaria. Pediu o prato do dia: arroz integral, legumes e a sobremesa.
                Arrependeu-se à chegada da sobremesa: um copo enorme de frutas variadas cobertas com gelatina vermelha. E ainda tinha uma porção de cereais cobrindo tudo.
                - Só a sobremesa seria um almoço completo, pensou, mas comeu assim mesmo e voltou à secretaria.
                  Entrou no banheiro. 
                A secretaria era cuidadosa com suas repartições. O banheiro estava sempre limpo e cheirando a eucalipto.
                Estava escovando os dentes quando uma colega entrou no banheiro e riu.
                - já sei o que você veio fazer aqui, depois do expediente, em vez de ir direto para casa. Está interessada no Robespierre, o novato da seção ao lado, não é?
                - Quem? – Magnólia se espantou.
               - Aquele lá, está arrasando corações, a colega continuou e mostrou o colega, chegando para o trabalho.
                Magnólia viu o rapaz que entrava na repartição ao lado. Parecia meio lento, bobão e não entendeu o que havia nele para arrasar o que quer que fosse, cabeças ou corações, a não ser a novidade da sua condição de novato.
                - Era só o que faltava, pensou.
                Olhou o relógio e suspirou de impaciência, vendo que ainda tinha de esperar uma hora. Ali perto não havia nada para se distrair, nem uma livraria.
                - E ele sempre se atrasa entre um cliente e outro, pensou. Fazer o quê?
                Penteou os cabelos, ajeitou a roupa e se encaminhou para as enormes portas da  secretaria, sabendo que nos dias seguintes ia fazer a mesma coisa, até o dentista terminar o lento trabalho em seus dentes.