quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Condomínio: A Assembléia do Espanto



                           Condomínio: A ASSEMBLÉIA DO ESPANTO 

                O que significa morar em um imóvel tombado pela Prefeitura? É mais ou menos isso aí:

Você compra uma casa. Quando a casa estiver precisando de alguma reforma, pintura, melhoria, você não tem direito de mandar fazer o serviço. Precisa pedir permissão a um terceiro, cumprir uma série de burocracias, esperar o consentimento e ainda pagar a obra com seu dinheiro.

Depois de várias visitas ao Patrimônio, acompanhada de algumas moradoras interessadas na melhoria do condomínio, de posse de todas as informações, fiz algumas reuniões com os síndicos dos quatro prédios, com o objetivo de conseguirmos permissão para colocar uma grade ao redor do condomínio. O Patrimônio exigiu que um arquiteto fizesse o projeto da grade, pago pelos moradores, evidentemente. Esse projeto seria, depois, levado à Prefeitura para ser aprovado ou não. Em caso negativo, começar tudo outra vez.

Depois das reuniões, esperei que cada síndico fizesse reuniões com os respectivos condôminos. Como isso não aconteceu, resolvi fazer uma assembléia geral. Além da grade, o objetivo era concorrermos à Lei do Incentivo à Cultura para ganharmos a reforma total do condomínio, dos quatro prédios, recuperados e pintados. Como privilégio, os moradores podiam escolher a cor da tinta...


Escrevi a convocação, citando o assunto a ser debatido, fui a cada um dos prédios e entreguei a convocação em mãos. Nos apartamentos onde os moradores estavam fora, trabalhando, joguei a convocação debaixo da porta.

No prédio mais antigo existem três portarias. Em todos, três andares. No primeiro prédio visitei dezoito apartamentos, subindo três vezes as escadas. No segundo prédio, duas portarias, no terceiro, também duas. No quarto prédio entreguei a convocação apenas à síndica, já que ela não queria participar por ter sua grade feita antes do tombamento. Haja pernas para subir e descer tantas escadas!

Uma de minhas vizinhas ofereceu sua sala para a reunião. Achei a sala pequena para um número tão grande de pessoas, mas ela já havia sido gentil e fiquei agradecida.

Quando entreguei a convocação ao Jo e sua mãe, esta falou que não ia “mexer com isso”. Respondi que era importante a participação de todos, mas a escolha era deles.

No dia da reunião cheguei cedo à sala para acabar de organizar tudo, ver se o número de cadeiras era suficiente, etc. quando minha vizinha recebeu um telefonema em seu celular, comunicando que Jo e sua mãe estavam na esquina tentando evitar que os moradores comparecessem à reunião!  E ela havia afirmado que não ia mexer com isso...

As pessoas que compareceram eram em número muito menor do que eu havia calculado. De repente entrou um casal desconhecido e se sentou no fundo da sala.

- Somos advogados! – disseram, mas o tom de voz traduzia mais ou menos isso: somos da polícia!

- Tudo bem, falei, podem ficar à vontade.

Antes de começar a reunião pedi que ouvissem as informações que eu ia passar, as exigências do Patrimônio para o gradil e a possibilidade de ganharmos a Lei de Incentivo à Cultura, com a reforma gratuita de todo o condomínio e que no final eu responderia as perguntas.

O casal de supostos advogados me interrompia a cada palavra que eu tentava dizer. Pareciam duas crianças em sala de aula perturbando a professora. Mais uma vez pedi que anotassem as perguntas para não atrapalharem meu raciocínio.

Não adiantou. Continuaram. A mulher disse que eu havia “obrigado todos a comparecerem aquela assembléia e isso era contra a lei”. Não me lembrava de ter levado alguém algemado ou amarrado para aquela sala, mas não queria perder tempo com aqueles absurdos e perguntei:

- Estou contra a lei?

- Está, a suposta advogada falou, rindo.

Pelo pouquíssimo que conheço de advocacia, “todos são inocentes até que se prove o contrário”. Sou meio impaciente, não costumo medir as palavras, mas não perdi a elegância.

- A reunião está interrompida, falei. Saí da sala e fiquei andando no corredor, de um lado para o outro.

A vizinha do prédio número quatro, Najla, se levantou e falou com os supostos advogados que eles não me conheciam, não conheciam meu trabalho no condomínio, que eu era a pessoa que mais lutava pelos direitos dos moradores. A gritaria começou e enquanto isso eu me acalmava andando de um lado para o outro, até ser chamada de volta.

O suposto advogado me pediu desculpas e, como castigo, sugeri que ele escrevesse a Ata da Assembléia.

Consegui passar as informações para todos, mas um morador disse:

- Ninguém quer essa grade ao redor do condomínio.

Uma moradora do prédio ao lado, Cristina, arquiteta, sugeriu uma votação; que os favoráveis à grade levantassem a mão. Todos levantaram as mãos, com duas únicas exceções.

No final da reunião os moradores do prédio “velho” -  chamado assim por ter sido o primeiro construído no condomínio – se aproximaram de mim, se apresentaram, mas não quiseram assinar a Ata, temendo um compromisso. Assinar a Ata significa simplesmente o comparecimento à reunião, independente de aprovar ou reprovar os assuntos tratados.

 O advogado voltou a me pedir desculpas e ofereceu seus préstimos.

Apesar do aparente sucesso da reunião, a interferência de Jo e sua mãe serviram de entrave para o sucesso do empreendimento, porque gerou dúvidas e desconfiança nos moradores que não me conheciam. 

E enquanto o IAPI, com cinco mil habitantes ganhou a reforma e pintura de todo o condomínio, continuamos, aqui, com menos de cem habitantes, sendo nomeados "A Favelinha da Cidade Jardim". 

Fazer o quê? Chorar ? ou jogar tudo para cima e seguir a maioria: cuidar do próprio umbigo?


 

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Condomínio: Síndico paralelo

                                               Condomínio: Sindico paralelo


          A faxineira do prédio teve a idéia de raspar o piso de minha portaria para tirar o excesso de cera acumulada e depois voltar a encerar. Levou dois dias para completar o serviço e  fiz o pagamento.

          Dias depois D. Olga, da outra portaria, veio me pedir para eu contratar alguém para raspar o piso da portaria dela, que estava muito feio e trouxe o orçamento. A faxineira, vendo que o trabalho era pesado, perdeu a vontade de fazer o mesmo em outras portarias.

         - Não vou gastar dinheiro do condomínio com isso, respondi, ainda mais por esse preço: está muito caro. O condomínio tem outras prioridades.

          D. Olga não aceita não como resposta. Foi para casa e voltou dias depois, insistindo na idéia da raspagem do piso. Voltou diversas vezes, insistindo na idéia. O mais estranho em seu comportamento é que quando fazemos a vontade dela não escutamos nenhum agradecimento, somente mais reclamações, admoestações indignadas porque jamais o serviço fica do jeito que ela imagina. Não conhece limites em sua insistência, esgota a paciência de qualquer pessoa.

           Dias depois passei por sua portaria e vi alguns homens raspando o piso. Da janela, ela provocou:

           - Está vendo como minha portaria está ficando bonita?

         Descobri que ela foi, de porta em porta, pedir aos moradores de sua portaria a contribuição para o pagamento do serviço. Eram três apartamentos, contando com o seu.

          Fiquei indignada com a falta de respeito à minha autoridade de síndica. Dias depois, seguindo seu comportamento usual,  ela estava reclamando da qualidade do serviço com os trabalhadores que rasparam e envernizaram sua portaria.

        Algum tempo antes disso ela já havia mandado um pedreiro abrir um buraco no murinho do jardim para escoar água de chuva. A água passava pelo buraco, descia pela calçada até o final da rua, passando em frente aos três prédios, deixando um rastro de água lamacenta na passagem das pessoas. Vi aquela aberração e esperei a primeira reclamação dos moradores dos prédios vizinhos.

       Chamei outro pedreiro, mandei que fechasse o buraco e fizesse a canalização correta, por baixo da calçada até o bueiro. Paguei com dinheiro do condomínio.

         Síndico paralelo que se elege por conta própria e não respeita ninguém é dose para leão!