quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Covil e casa de campo

Covil e casa de campo

 

            Alugamos, no ano passado, o porão para um casal jovem, Diogo e Lúcia, com dois filhos pequenos. Eles tinham acabado de sair de um dos cômodos de Seu Ronin, ao lado. Tivemos pena das crianças e alugamos por um preço simbólico. Eu queria alguém para tomar conta da casa e plantar verduras no quintal. Ele pagou o primeiro mês de aluguel e só pagou mais algum quando retornávamos a Matipó, sempre dando explicações pelo atraso. Meses depois, descobrimos, através de um telefonema, que havia sumido objetos da casa e Geraldo mandou que os dois saíssem do porão, porque a casa ficou sozinha, dezenas de anos e jamais havia sumido coisa alguma. Quando retornamos, meses depois, para nosso espanto os dois ainda continuavam no porão e descobrimos que nosso gás havia acabado (havíamos comprado antes de voltarmos a BH) e quando Geraldo foi comprar o gás, viu que o botijão de reserva havia sumido. Mais um vez chamou o Diogo, que novamente estava ausente e teve uma discussão com Lúcia, mandando que saíssem do porão.

            Só conseguimos que saíssem em fevereiro e Geraldo e Diogo tiveram uma briga na hora em que o caminhão estava saindo. Diogo retornou em seguida e fez sérias ameaças a Geraldo. Como estou tarimbada em controle e manipulações, já estudei bem essa matéria, nos livros e na Escola da Vida, interrompi o que ele dizia:

           - Pára com isso, Diogo, isso não funciona com a gente. Só funciona com bobos – falei.

          Ele parou com as ameaças e ficou confuso. Entrei no porão depois que estava vazio e a sensação foi horrível: covil – foi a palavra que me veio à mente. A energia estava densa e pesada, havia sangue no chão da sala e do quarto, traças cobriam o teto e as paredes, o quintal cheio de lixo, fraldas sujas, pedras, mato alto. Além disso, o pouco que havia estava quebrado: interruptores, e até o “miolo” do tanque havia sido retirado à faca.

          Geraldo passou o dia consertando tudo, lavou as paredes e chão com mangueira e detergente e alugou o porão para seu primo, que, por acaso passou por ali contando suas dificuldades com o lugar onde morava. Dias depois a luz foi cortada e quando fomos pagar a conta ( Diogo sumiu com as contas) vimos que havia uma despesa de R$ 400,00! Pagamos e escrevi uma longa carta à Energisa, que havia religado a luz três vezes sem pagamento, apenas porque Diogo usou o nome de Geraldo para religar a luz. Escrevi que fomos vítimas de uma falcatrua e a Energisa colaborou com isso. Agora os funcionários mantêm uma distancia segura quando vêm aqui. Não sei se algum foi despedido depois da minha denúncia, mas se foi, mereceu.

            A avó de Diogo disse que os dois estavam satisfeitos com a outra casa porque havia espaço para as crianças. Agora, que retornamos, para minha surpresa vi Lucia e as crianças novamente no cômodo do Seu Ronin. Falei com Geraldo que se os dois se separaram ela tirou a sorte grande. Dias depois ela colocou a mudança em um caminhão e tornou a se mudar. Soube, depois que a senhoria havia visitado a avó de Diogo mandando ele retirar a mobília que ela ia colocar na rua porque ele não pagou a conta de luz e água. Parece que ele é firme em seus princípios: é contra os valores morais dele pagar as contas...Outros detalhes soube depois: que Diogo batia em Lúcia ( se eu soubesse disso teria chamado a polícia, sem me identificar) o porão era usado por marginais perigosos, que Diogo deixou a mulher de um policial entrar em nossa casa com o namorado, notei que colchas, lençóis e toalhas de banho e talheres sumiram e soube que Lucia havia colocado colchas diferentes e bonitas no varal. Nesse intervalo eu havia ligado dezenas de vezes para a vizinha, para saber se os dois haviam se mudado, se a casa estava em ordem e não consegui nenhuma ligação  porque ela havia trocado o número do celular...

            O primo dele é pequeno, magro, parece ter uns setenta anos e é muito respeitado na cidade. Fico observando. As mães mandam seus filhos tomarem a benção ao seu Geraldo ( é o nome dele, todo mundo em Matipó se chama Geraldo), todos param para conversar com ele. Levou terra em baldes, colocou no quintal, comprou sementes, semeou na sombra e depois plantou. Regou as flores que eu havia plantado e tudo mudou de aspecto. Em um mês já pudemos comer as bertalhas, couves e mostardas. Levei para ele cenouras com brotos e sementes de abóbora vermelha. É uma alegria ver as plantas crescendo. Nossa pia usada, de aço inoxidável, que paguei a um táxi para levar para Matipó foi colocada, por Geraldo na cozinha do porão e ficou ótima.

            Temos um novo inquilino invasor: é uma garrinchinha, muito simpática e mimosa, que faz seu ninho no telhado da casa.

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