quarta-feira, 19 de setembro de 2012

cap 2 Secretaria: Objetivos semelhantes

Objetivos semelhantes

 

Outra pessoa me procurou, dias depois.- Tenho trabalhado com os adolescentes sobre o uso de drogas, principalmente a cola de sapateiro. É um trabalho muito bom.

Finalmente, uma cooperação e compreensão dos meus objetivos. Conversamos algum tempo e marcamos uma data para a aula expositiva. Convoquei os guardinhas, coloquei cartazes no elevador e nos locais onde precisavam transitar, diariamente.

Alguns dias antes, uma adolescente me procurou, extremamente agitada. Na entrevista que fiz, com cada um deles, ela havia me contado sobre seu colega que usava cola de sapateiro. Depois, caiu em si, pensou no que havia feito e passou a se acusar, com medo de estar provocando a futura demissão do menino.

- Se ele for despedido, a culpa foi minha. Eu fui traidora, não devia ter falado.

- Você fez bem. Ninguém vai despedir o menino. Você pode ter salvo a vida dele, isso é que é amizade, respondi.

Mas a menina continuava em seu círculo de culpa e medo. Resolvi usar uma técnica de Programação Neurolinguística, aprendida recentemente:

- O que você está ouvindo mentalmente?

- que eu sou culpada, que sou traidora.

- O que você está vendo, mentalmente?

- Vejo o meu colega indo embora, sendo dispensado, meus colegas me acusando, se afastando de mim, me isolando.

Usei a técnica para fobias. Se for bem feita, a fobia é apagada em poucos minutos.

Depois da técnica ficou mais calma e voltou ao trabalho. Pedi a ela para mandar o menino conversar comigo.

Ele veio, aéreo por causa dos efeitos da droga e tivemos uma conversa. Ouvi o que ele tinha a dizer, depois fiz algumas recomendações.

- Seu cérebro é a coisa mais preciosa que você tem. Ele comanda seu corpo e sua vida. A droga torna você mais fraco e  dependente.

A maioria das pessoas escuta o que quer escutar. As pessoas entendem o que querem entender. Essa é a razão de tanta desavença e escolhas malfeitas. As crianças tem mais possibilidades de se recuperar rapidamente de vícios e escolhas erradas, mas os pais – e professores - não sabem do seu próprio poder sobre os filhos e ficam se debatendo em desalento e desespero.

 

No dia da aula poucos compareceram. O usuário de cola de sapateiro, um menino menor que a maioria, aparentando menos idade do que tinha, também esteve ausente. Sempre notei isso, quando dava aulas no grupo escolar; ficava preocupada com o comportamento e aproveitamento de determinados alunos, marcava reunião com os pais principalmente por causa desses alunos e somente os pais dos bons alunos compareciam. Chegavam preocupados, perguntando como ia o seu filho na escola, se dava trabalho, se acompanhava as aulas direitinho.

- Seu filho não dá nenhum trabalho. É ótimo aluno, inteligente, bem educado. Você está de parabéns por ter um filho assim. – eu respondia.

Quando acabava a reunião, ficava aquela sensação de tempo perdido. Meus objetivos tinham ido pelo ralo. Os piores alunos que não mediam esforços para tornar o ambiente um inferno, que precisavam de orientação paterna, continuavam sem nenhuma assistência e eu, absolutamente não sabia o que fazer com eles. Estava sozinha e desamparada.

Colocamos os guardinhas no salão da Secretaria, um local com muito espaço para uma grande audiência... a aula começou. A colega mostrava slides com desenhos; o tipo de droga, o efeito que causava no organismo, o comportamento do usuário. Um bom trabalho. Um dos raros momentos de cooperação e compreensão num ambiente competitivo.

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