quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Geraldo, Marilia e meu gato


                                                        Geraldo, Marilia e meu gato

            Sai para fazer exame de sangue. O laboratório tem boa aparência, fica em Santa Efigênia, parece bem organizado. Apesar de cheio de gente, fui atendida com rapidez. A atendente tirou dois tubos de sangue do meu braço esquerdo.
          - Que estranho! Por que parou? – ela disse.
          Olhei para a seringa. O sangue parou de entrar no tubo.
          - São três tubos? – perguntei
          - Quatro, ela respondeu.
          - O sangue do meu braço esquerdo já acabou, expliquei, agora você vai ter de tirar do meu braço direito.
          Ela riu, retirou a seringa, pegou outra, espetou meu braço direito e o sangue sobrou, teve de jogar algum fora.
          - Agora você está desperdiçando meu sangue, falei. Comentei sobre a facilidade do exame de sangue, hoje, que ficou menos dolorido, mais fácil e que antes algumas pessoas chegavam até a desmaiar. Ela respondeu que algumas ainda desmaiam e contou um caso sobre uma mulher que desmaiou e o sangue coagulou porque ela teve de segurar a mulher e deixar o sangue para lá.
          Nunca entendi mulher que não pode ver sangue. Como será que ela faz, todo mês? Desmaia cada vez que vai trocar o modess?
          Fui andando de volta para casa, em direção ao ponto do ônibus. Marilia evita conversar com Geraldo, trata-o como uma nobre a um vassalo e o bobo sai correndo, fazendo todas as vontades dela. Quando quer alguma informação dele pergunta a mim, com ele presente e sempre falo para perguntar a ele. Perguntei por que não fala com ele.
          - Sou pessoa de poucas palavras, ela disse.
          - Ou de pouca educação? perguntei
          Às vezes ela dá uma “colher de chá” e chegam até a conversar. Geraldo contou a conversa com Marilia, enquanto eu estava fazendo o exame. Ela estava dizendo a idade de cada um dos irmãos, adiantando o expediente, sem contar a data de aniversário, como se todos já tivessem completado a idade neste ano, inclusive a dela, disse ter 60 anos, sendo que o aniversário dela é no fim do ano.
          Depois de falar as idades, completou que o problema é que tem “cinco anos amarrados”.
          - Com esses cinco anos amarrados, quem tem 60 anos passa a ter 55? Ele perguntou.
          - Não, ela respondeu, continua com 60 anos.
          - O que ela quis dizer com cinco anos amarrados? Ele perguntou
          Comecei a rir. – isso é com ela, respondi. O pior é que nem posso perguntar, ela não vai gostar de saber que ele contou a conversa para mim.
           No dia seguinte, novo comentário dele:
          - O gato Preto entrou no quarto de Marilia e ela falou: - O que você está fazendo? E ele saiu, voltou da porta, caladinho. Fiquei espantando, pensando que aquilo não estava acontecendo.
          - Ele entende tudo o que a gente diz, explico.
          Meu gato Preto está com disfunção renal. Para controlar a situação, ele tem uma ração especial e não pode comer da ração da Safira. Como são apenas dois, a ração dele fica na área e a de Safira no quarto de Marilia, mas de vez em quando ele vai lá, tentando comer a dela. Tem treze anos de idade, pesava seis quilos e meio, mas agora está leve, deve ter perdido pelo menos dois quilos. Entende tudo o que a gente fala, principalmente pequenos comandos, tipo: senta ou deita. Muitas vezes dou uma de desparafusada e falo frases inteiras com ele: para meu espanto, ele obedece, parecendo entender tudo. Isso acontece há muitos anos. Minha mãe dizia que pelo tempo em que ele convive com a gente, já deve ter aprendido a linguagem.


Marina

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