segunda-feira, 24 de setembro de 2012

cap 5 Secretaria: Final feliz

Secretaria                                                     Final Feliz

 

              Depois da tentativa frustrada de trabalhar com os guardinhas da Secretaria, certo dia entrou em minha sala uma das colegas do setor onde faziam a contagem de tempo e anunciou que eu já podia pedir aposentadoria, já tinha tempo suficiente de serviço para isso.

             É... eu devia estar realmente incomodando o pessoal...

             Entrei com os papéis e fiquei aguardando a aposentadoria em casa.

             Algum tempo depois uma colega da minha seção me telefonou:

             - Marina, você precisa voltar - disse. Aconteceu uma mudança aqui e todos estão fazendo opção para trabalharem oito horas diárias para dobrarem o valor do vencimento. Você vai poder se aposentar ganhando o dobro do que ganha hoje.

            Voltei à Secretaria e procurei a diretora da última seção onde trabalhei. Encontrei-a na entrada da Secretaria e comuniquei minha decisão de voltar.

           - Isso vai depender do setor onde você vai trabalhar, ela falou, no meio de uma frase.

            Minha mãe sempre dizia que "para bom entendedor, uma palavra basta", ou para bom entendedor um pingo é letra. Ela não me queria em sua seção...

           Procurei o setor que cuidava desse assunto. Eu sabia que, por lei, ninguém poderia recusar um funcionário que desejasse voltar a trabalhar, mas, como sempre, não prolonguei conversa. Não me sentiria bem em um setor onde não fosse bem aceita. Mandaram-me procurar o diretor da seção da Praça da Liberdade.

           Mais uma vez escutei afirmações contrárias à lei. Mais uma vez continuei em silêncio, sabendo que aquilo tudo estava errado. Ele disse que essas pessoas que estavam querendo voltar iam ficar por pouco tempo. Nós estávamos sendo chamados de "paraquedistas". Não lutávamos pelo nosso direito, éramos considerados interesseiros. Ele não ia disponibilizar uma mesa e uma cadeira para um funcionário que ia logo voltar a pedir aposentadoria. Não falou nada sobre meu trabalho, nem tinha o menor conhecimento de minhas habilidades. Agradeci e sai. Voltei ao setor de onde havia saído.

           - Você não conseguiu vaga na Praça da Liberdade? - a colega perguntou - Todo mundo aqui está dizendo que você está trabalhando lá como assistente do diretor...

           É... eu havia recebido promoção imaginária das colegas que conheciam meu trabalho.

           Recebi outra sugestão.

           - Procure a Diana. Ela é muito boa, uma das melhores diretoras daqui.

           Fui apresentada à Diana na fila do elevador. Ela me olhou com desconfiança e aceitou minha presença em seu setor. No dia seguinte comecei a trabalhar. Pedi para ficar no computador, na sala onde trabalhava Neuza, que já havia se aposentado, mas resolveu voltar a trabalhar.

          Com o passar do tempo fomos nos tornando amigas. Soube que Diana havia passado por uma experiência dolorosa de saúde e sempre saía discretamente quando o assunto era doença. Havia sobrevivido a um câncer, tinha perdido os cabelos e depois recuperado: tinha uma vasta cabeleira ondulada, bonita, que deixava solta. Estava sempre bem humorada e os funcionários a adoravam.

          Diana, dias depois me chamou à sua sala. Para meu espanto, era para elogiar um trabalho que eu havia feito.

          Uma vez Neuza me trouxe um presente: era um gato de pelúcia.

         - Como você gosta de gatos, trouxe este para você. Achei um outro, preto, mas era muito feio. Custei a encontrar esse.

         Peguei o gato, sem palavras.

         Ainda hoje eu conservo esse gato em cima da poltrona da casa. Uma boa lembrança de um bom setor de trabalho onde fui bem recebida e meu trabalho valorizado.

 

2 comentários:

  1. Olá Marina!
    É interessante como às memórias influenciam os nossos dias. [sorrio]
    Prazer estar aqui! Com tempo, venha ler e comentar NECRÓTICO no http://jefhcardoso.blogspot.com
    Abraço e uma excelente semana!

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    1. Obrigada, Jeferson. Você leu os capítulos anteriores da Secretaria? A velha surda, Caixa de marimbondos, O fantasma do Casarão e Objetivos semelhantes? Gostaria que você lesse. Abraços,
      Marina

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